domingo, 16 de maio de 2010

Camada de ozônio na Antártica se recuperará até 2080


Os cientistas e os ecólogos gostam particularmente da história do chamado buraco na camada de ozônio: o problema foi previsto há menos de 20 anos (e depois a descoberta levou o prêmio Nobel), foi medido sobre a Antártida e levou à adoção de um acordo internacional (Protocolo de Montreal, 1987) para proibir o uso dos compostos químicos que destroem o ozônio. Este mês, o primeiro anúncio da redução – ou buraco – na camada de ozônio sobre o continente branco, em maio de 1985, completa 25 anos. Os cientistas celebraram a data na Universidade de Cambridge (Inglaterra) e explicaram que a espessura da camada de ozônio sobre a Antártica recuperará, em 2080, os mesmos níveis de 1950. Não faltou comparações com a mudança climática, mas neste caso vista com pessimismo, não por falta de conhecimento científico mas por falta de um acordo político eficaz que responda ao problema.

Joseph Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin, do British Antarctic Survey (BAS), informaram, em maio de 1985, na revista Nature, sobre a descoberta da redução da camada de ozônio sobre a Antártida, na primavera austral. A revista científica relembra a data com um artigo de Shanklin no qual ele conta como foi feita a descoberta na estação antártica Halley, ao constatar que os valores mais baixos de ozônio, medidos em meados de outubro (na primavera do continente), haviam caído cerca de 40% entre 1975 e 1984.

“Já havia uma preocupação de que os CFCs [clorofluorcarbonetos] pudessem destruir a camada de ozônio, que fica localizada entre 10 e 35 quilômetros de altura da superfície terrestre e que protege a humanidade de mais de 90% da perigosa radiação solar ultravioleta”, recorda Shanklin. Os satélites permitiram constatar que o buraco na camada de ozônio se estendia sobre todo o continente.

Foram outros cientistas, antes destes três especialistas do BAS, que deram o alarme com seus estudos sobre a química atmosférica e a destruição do ozônio pelas reações com compostos como os CFCs utilizados nos aerossóis e refrigerantes. Por causa de seus trabalhos nos anos 70, Paul J. Crutzen, Mario J. Molina e F. Sherwood Rowland receberam o Nobel de química em 1995.

A camada de ozônio é uma proteção natural que filtra a radiação ultravioleta da luz solar, nociva para os seres vivos e capaz de provocar queimaduras na pele, câncer e cataratas nas pessoas. Uma molécula de ozônio é formada por três átomos de oxigênio, na atmosfera elas estão concentradas numa faixa a cerca de 20 quilômetros de altura. Há uma molécula de ozônio para cada 100 mil moléculas de ar, explica o BAS. O ozônio é gerado quando a radiação ultravioleta rompe as moléculas de oxigênio, e é destruído por reações químicas com o cloro e o bromo, emitidos para a atmosfera pelos CFC e os hidrocarbonetos halogenados.

Nos anos 80 eram emitidas 500 mil toneladas de CFC por ano, alcançando um valor acumulado de 30 milhões de toneladas na atmosfera, das quais um sexto chegava à estratosfera, informa a Unidade de Coordenação de Pesquisa do Ozônio na UE.

Embora a destruição do ozônio não se limite à Antártica, o buraco antártico é resultado da meteorologia local e do frio extremo durante o inverno, que aumenta a produção de cloro e bromo a partir dos gases contaminantes; quando chega a luz da primavera, a perda de moléculas de ozônio se acelera. “Hoje compreendemos bem a física e a química que regem a camada de moléculas de ozônio”, diz Shanklin. “Os níveis mínimos de ozônio ficaram constantes nos últimos 15 anos em cerca de 70% abaixo dos níveis do final da década de 70.”

Os destrutivos CFCs – proibidos desde 2000 pelo Protocolo de Montreal e substituídos por compostos alternativos na indústria –, alcançaram seu nível máximo em 2001 e logo começaram a cair. Mas seu efeito é duradouro e o buraco antártico continua aparecendo a cada primavera; em 2006 sua extensão foi a maior registrada; 28 milhões de quilômetros quadrados.

Fonte: El Pais